O impacto da simplicidade
» As ciclovias são parte da retomada do espaço público e do respeito ao direito de ir e vir
por Hélio Wicher Neto, advogado e cientista social, e Letícia Lindenberg Lemos, arquiteta e urbanista
Qual o impacto de algo simples como uma criança andando de bicicleta a caminho da escola? Isso é possível em São Paulo? Conhecida hoje mais como a terra dos congestionamentos do que como da garoa, a cidade ostenta números de uma verdadeira guerra quando tratamos da violência no trânsito.
Por ano, morrem mais de mil pessoas em “acidentes”. Segundo a CET, em 2011 foram 1127 mil mortes, sendo 514 pedestres, 433 motociclistas, 134 motoristas e 46 ciclistas. Para comparar: o mais recente conflito entre Israel e Palestina, matou 2170 pessoas – a imensa maioria de civis palestinos (2101).
A última pesquisa Origem e Destino (OD) do Metrô, de 2007, apontou que mais de 300 mil viagens eram feitas de bicicleta na Região Metropolitana de São Paulo. Um aumento de 90% comparado à pesquisa de 1997.
Tal número comprova o que todos vemos diariamente, no centro e na periferia: milhares de pessoas utilizam a bicicleta como meio de transporte. Outros milhares poderiam começar a fazê-lo, mas têm receio da violência do trânsito.
Outro número: mais de 30% dos deslocamentos diários para o trabalho, estudo e lazer são feitos a pé. Não é à toa que os números de pedestres mortos são tão altos.
Mas o que tudo isso tem a ver com as novas ciclovias ou ciclofaixas? Tudo! Elas são um dos elementos que “acalmam” o trânsito. Significa reduzir o espaço destinado aos carros, resultando na diminuição da velocidade dos veículos motorizados e na melhoria das condições de circulação para pedestres e ciclistas.
Não se trata de ser contra os carros, mas de uma distribuição mais justa do espaço público.
São Paulo está muito atrasada no respeito aos pedestres e ciclistas. Medidas rápidas e corajosas são necessárias para conter a perda de vidas.
As ciclovias são parte do processo de retomada do espaço público e do respeito ao direito de ir e vir, com segurança e qualidade, de todos que constroem a cidade.
As ciclovias demoraram, mas vem para ficar e tornar mais democrática o local em que vivemos. Boas vindas às ciclovias!