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Crônica: Prazer inestimável com uma inútil partida de futebol

Há alguma atração nessa “inutileza” que suga feito buraco negro viventes de todo o planeta

por Thalles Gomes

 

Que perda de tempo, ela me diz. E eu concordo. É noite. É tarde. É frio. A cama promete calor e prazer no quarto ao lado. E eu vidrado na frente da tevê. Mas como explicar que não se trata de razão?

Como explicar que qualquer resquício de sanidade mental vai por água abaixo na primeira vez que se comemora um gol num estádio de futebol com a euforia insana de um náufrago resgatado?

Poucas coisas são mais inúteis que assistir a uma partida de futebol. Não se fica mais rico nem jovem. Não se cria nada, não se muda o mundo. Mas há alguma atração nessa “inutileza” que suga feito buraco negro viventes de todas as bibocas do planeta.

Talvez porque num mundo onde tudo é contado em cifrões e o ócio é pecado mortal, todo prazer carrega algo de inútil e transgressor. Perder tempo num jogo de futebol não deixa de ser uma forma desesperada de voltar a ter algum controle sobre ele.

Não penso nisso quando o jogo acaba. Mais uma derrota. A esperança de uma vaguinha na Libertadores dá lugar ao temor do rebaixamento.

Precisamos de um lateral esquerdo. Um centroavante. Um meia. Todo um time. Bebo um gole d´água. Entro no quarto sem fazer barulho. Ela ainda está acordada. Deito e rio feliz do meu azar.