Perfil: O maratonista do Minhocão
Marcelo Soares encara o elevado como “pista de cooper particular”
por José Coutinho Júnior

O cenário é o elevado Costa e Silva, mais conhecido como Minhocão, numa chuvosa noite. A chuva, que ficava cada vez mais forte, formava grandes poças d’água no elevado, molhando tênis e calças. A caminhada pelo Minhocão parecia que não daria em nada.
Corria em sentido contrário um homem magro, de cabelos rasos, com camisa regata e shorts. - Ei, podemos conversar?
Ele tirou os fones de ouvido e, correndo em círculos, respondeu que sim. - Eu não posso parar, preciso ficar aquecido. Então vão falando enquanto vou correndo.
Marcelo Soares tem 41 anos e encara o Minhocão como “pista de cooper particular”. Diz que não trocaria o elevado por outro espaço para correr. “Tem o Ibirapuera, mas lá só é bom se estiver tranquilo. E aqui o asfalto exige mais para correr, o que é bom, já que eu venho aqui para treinar”.
Gerente de uma loja de artigos esportivos na rua 7 de abril, mora na Augusta. Apaixonado por corridas, ele compete na Maratona de São Silvestre há nove anos e vai para a sua 4ª Meia Maratona de São Paulo. Treina pelo menos cinco dias na semana no Minhocão. “Corro uns 12 quilômetros todo dia. Vou da Consolação até a Francisco Matarazzo pelo menos duas vezes”.
Marcelo treina no Minhocão faz 12 anos. Nunca viu violência. Apenas atletas amadores, jovens namorando e famílias passeando com seus cachorros. Nas segundas e terças-feiras, o viaduto lota. No domingo, ele diz que vai “o pessoal farofeiro”, de biquíni e sunga, com comércio de churrasco, água de coco e sorvete.
É uma espécie de referência no Minhocão. “As pessoas acham legal e vem para treinar e apostar corridas comigo”, diz rindo. E de onde vem tanta vontade para correr naquela chuva? “Um atleta tem que estar preparado para tudo”.